Aqueles mesmos dias

  

  Acordei e tomei um café meio frio. Era de ontem mas o gosto parecia de muito mais tempo. Peguei o casaco que sempre ficava pendurado atrás da porta do quarto e o livro que ficava na cabeceira da cama, já todo empoeirado. Há dias o apartamento estava sendo deixado de lado. E pra variar, eu também. As musicas na playlist do celular eram as mesmas a meses. Aquela que me lembra dele também está lá, mas isso não importa agora. Nem um pouco.
  É outono e as folhas das árvores já cobriam o chão cimentado. Por onde eu andava elas saiam do lugar, como se ali já não desse mais para ficar, pelo menos até que o vento não as carregue-a de volta. Na rua as pessoas andavam de bicicleta, demonstrando satisfação por aquilo.
  Eu simplesmente andava. Não queria ser pontual hoje. Se atrasar quinze ou trinta minutos, tanto faz. Meus amigos não eram tão amigos. Minha vida não era tão minha. Há dias.
  Um sorriso meio escondido para o tio da padaria, que por sorte ou azar me via ali todos os dias. Mesmo casaco. Mesmo sorriso. E quando me dei conta, já não tinha mais o controle da minha própria vida. É como se eu não tivesse controle dos meus próprios passos por aquele chão de folhas secas, que insistiam em sair do lugar. Eu me via com uma terrível sensação de que os dias passados eram folhas em branco que eu nunca mais conseguiria escrever. Elas ficarão esquecidas e vazias, sem nenhum sentido.
  O dia estava frio e o sol ainda se escondia entre as nuvens. Uma leve brisa tocava meu rosto e fazia alguns fios do meu cabelo se bagunçarem. Alguns “bons dias” recebidos pelo caminho e continuei por ali, como todos os dias. Não sei se apenas me via frágil ou deixava-me ser. Se andava ou corria para não e atrasar outra vez. Se enfim viveria assim ou procurava motivos pra seguir.
  Mas, mesmo com o tempo passando, sinto que nunca é tarde.